sábado, 10 de setembro de 2011

Pessoas do mesmo verbo

tumblr_lra8tzJHgT1qarjnpo1_500Eu crio e descubro algo novo
Em minhas velhas tralhas esquecidas.
Me surpreende, me encanta, me choca.
É um reencontro com o meu próprio lixo,
Sedimentado numa área alagada qualquer
Da minha existência desvelada.
Me encanto no desencanto.
Não posso criar sem desencantar-me
E, desencantando-me, me encontro
Num encanto imaginativo.
Quando desconstruo o dia e a cidade,
Ergo minha imaginação,
As minhas imagens em movimento
Num palco sem platéia.
E eu queria poder olhar-me
Com olhos de outros,
Como um crítico escondido atrás das luzes.
Não é de mim que falo apenas.
Eu também sou esse crítico que te ofusca
E te vejo só e desnuda.
Você pessoa
Que por trás de toda a tinta
É tão crua...
Tão só.
Não nos vemos, não nos tocamos,
Mas criamos.
E cá estamos a nos encontrar.
Você me lê e isso é mais seu do que meu.
Você me recria embaralhando nossas tralhas.
Eu te imagino, imaginando o que sei e o que não sei de nós.
Portanto, te digo: eu não sei!
Só queria saber o que pode um poema
Nesse encontro.
Você e eu.
Pessoas do mesmo verbo.

por Sérgio Araújo.

Um comentário:

  1. Você andou lendo Derrida, estimado Sérgio?
    Desconstrua desse verbo sílabas de alento, que o lado de cá do poema também é filho de Deus, e sente saudade de seus versos.
    Um abraço e aguardamos (com ansiedade) seus ocultos escritos...
    alaor

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