sexta-feira, 27 de março de 2009

Jacaré aparece na rede depois de 22 anos amarelando numa gaveta.

 
Causou espanto aquela banhista com um sumaríssimo dental-life, mastigando um doce(vida é mel), á procura do jacaré que cruzou a baía de todos os lixos e, tranquilamente, comeu o caruru da bela hóspede do Mediterranéé.
De Mar Grande ao grande mar de Caixa-pregos, ele pregou fundo o prefixo, o sufixo e o interfixo das efeemes locais. A saber: Eu sou negão! E, boca de 09 pra valer, não recusa um convite sargaçado de uma gata com os pés arregaçados pela "larva migrans", para fazer tatoo surrealista ao sol do meio dia, enquanto você procura um otário pra tomar o resto da sua tubaína.
Agora o sol derrete as bordas do asfalto e o mar avança sobre os banhistas com botas de acrílico fumé.
Não. Não se espante se um jacaré usando óleo de gergelim se deitar ao seu lado em qualquer praia da ilha. Apenas retire os óculos escuros, relaxe e deixe-se embalar pelo mais recente sucesso da dupla Moisés e Messias e sua banda "Mentes em eclipse", enquanto o jacaré degusta a sua galinha assada com farofa.

por Sérgio Araújo

sexta-feira, 13 de março de 2009

Ecos!

 A arte é realmente necessária. Quando fiz este cartão, aí por volta de 1985, eu trabalhava em um misto de gráfica e agência de publicidade. Me foi pedido um cartão de Natal, só que geralmente os cartões deste tipo são muito parecidos: bolinhas, sinos, figuras bíblicas, etc. Eu resolvi inovar e fiz dois tipos: um é este aí de cima. O outro, eu já não tenho mais. O certo é que os cartões fizeram o maior sucesso e foi preciso fazer várias tiragens.
Neste cartão, eu juntei um poster pop do artista plástico Martin Sharp com o autoretrato de Van Gogh e no verso, o poema: continuidades de Walt Whitman.
No balão há uma citação de Van Gogh: i have a terrible lucidity et moments when nature is so glorious in those days i am hardly concious of myself and the picture comes to me like in a dream...
Eis o poema de Whitman:

Continuidades

Nada nunca jamais está perdido
ou pode ser perdido:
nenhuma forma, identidade, nascimento,
nenhum objeto do mundo,
nem vida ou força ou qualquer coisa visível;
não devem as aparências deter
nem a esfera em mudança confundir
o seu cérebro.
Amplos são os espaços e o tempo,
amplos os campos da Natureza.
O corpo lerdo, envelhecido, frio
- brasas restantes de antigos fogos,
esmaecida luz nos olhos -
há de outra vez flamejar como deve;
o sol agora baixo no poente
levanta-se em manhãs e maios-dias
contínuos;
aos canteiros cobertos de gelo
retorna sempre o invisível código
da primavera,
com relva e flores, grãos e frutos
de verão.

Walt Whitman

quinta-feira, 12 de março de 2009

Salinas

Vida de sal e sol
que adentra a aurora
e o mar sereno.
Vida que imprime o rumo,
que infla o pano,
que apruma o leme
e deixa ao vento
as sinas soltas sobre a espuma.

Vida de pescador
que na bruma leve
carrega o barco ligeiro
nas águas plácidas das Salinas.
Vida de coragem, orgulho e fé;
de ver no mar a mãe que ensina,
mãe que cuida, mãe menina.
Vida de pescador.
Vida de todos os sonhos e conquistas,
Vida vivida, atrevida
Docevida,
Margarida.

por Sérgio Araújo

quarta-feira, 11 de março de 2009

O jogo

 "Temos vagas". Era apenas o que se podia ler por entre a neblina que se avolumava em volta da pequena lâmpada acesa sobre a placa suspensa à porta de um prédio velho e ainda em construção.
      Duas batidas na porta e uma mocinha magra de olhos escuros, vivos e longos cabelos pretos, deu passagem para uma sala sombria e iluminada à luz de duas lamparinas colocadas nas extremidades de um balcão de madeira, longo e corroído pelo tempo.
     - Quanto tempo o senhor vai ficar?
     - Apenas esta noite —  respondeu o hóspede noturno.
     A moça conduziu o hóspede até o terraço, passando por uma escada sem corrimão.
     - Então não há leitos individuais? - perguntou o hóspede.
     - Não senhor! Como pode ver, este é o único quarto que existe e aqui estão todos os nossos hóspedes. 
     Dezenas de corpos sonolentos, arrumados em fileiras ao longo das paredes, enfiados em sacos suspensos verticalmente por argolas presas a ganchos de metal. Um único e enorme cobertor suspenso acima das cabeças por fios de nylon, protegia-os contra as intempéries pois não havia teto algum, apenas a noite escura sobre suas cabeças.
     - Quem são essas pessoas? - indagou perplexo o novo hóspede.
     - O senhor não sabe? - respondeu a jovem calmamente.
     - São os jogadores do tempo. Chegam aqui aos montes e aqui permanecem até que o jogo recomece na manhã seguinte.
    - mas que jogo é este? – quis saber o novo hóspede.
    - Ora, ora... Não vá me dizer que o senhor veio aqui por acaso, eu tenho certeza que não. – afirmou a jovem, categórica.
   -Nesse instante, como se já tivesse estado ali por muitas vezes, o hóspede reconheceu o seu lugar junto aos demais, declarou suas marcas e viu-se suspenso, em seu saco de dormir, pronto para fazer daquela noite o ponto de partida para novas vitórias no jogo.
por Sérgio Araújo

quinta-feira, 5 de março de 2009

Frágil

Como um flash, aqui e alí, um após outro; de uns tantos momentos que, no rol sincero das minhas memórias, não aparecem com grande mérito.
Veloz é o trabalho de arrumar - ou seria desarrumar - figuras, rostos, tacos de frases ou cenários pela metade.
Minimalismo em meio ao fog esverdeado de 2022.
Um sorriso esquecido.
Alguém viajou sem se despedir e nunca mais voltou.
às vezes, a memória é assim.
Frágil! Como nós...

Por Sérgio Araújo