sábado, 24 de outubro de 2009
Inventando a esperança
Ontem sonhei com uma criança
Que na sua dança
Inventava a juventude.
Sonhei com a terra que, amiúde,
Era toda a gente do mundo.
O mar não era profundo
E o céu era o teto da casa
Pingando estrelas esparsas.
Sonhei contigo
A procura de um abrigo
Sonolenta na relva fresca.
Sonhei que ontem era amanhã
Que toada doença era sã.
Sonhei que era criança
Inventando a esperança.
por Sérgio Araújo
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Paisagem
Tarde quente de outubro:
Silenciosa,
Ácida.
Sem sombras na rua deserta e abrasiva.
Acolá,
O azul marinho pinta o horizonte
E revela uma poesia de bossa nova.
O vento liberta um pássaro veloz,
Ascendente
Que respinga gotas sutís
No meu rosto
Quente como a tarde.
por Sérgio Araújo
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Sem lei e sem ordem
Perdido, sem lei,
Sem ordem,
Só com minhas lembranças
E pretensões.
Andando no meu caminho,
Ou Parado
De frente para mim.
Assim...
Com coração e mente.
Apenas um,
Que, de tão contente,
Bastasse o vento.
Sem tempo
Sem.
sábado, 10 de outubro de 2009
Travelling
Travelling em primeiríssimo plano na delicadeza da nuca. Sob uma camada suspensa de fios dourados penetra em caracóis que se desfazem suavemente...
por Sérgio Araújo
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
[ # ]
Com um sorriso catártico e olhos abertos para a profundidade do momento, flutuou ao som da clarineta dedilhando um alaúde invisível para acompanhar a delicadeza e a feminilidade da voz que cantava: “hello, my love, now you're alone”.
por Sérgio Araújo
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
[ Solidão da noite ]
Enquanto caminhava devagar, lançou um último olhar para o quarto vazio. Nada a fazer senão descer as escadas e ganhar a rua que, naquela hora, estava quase deserta. Desceu degrau por degrau a escada em caracol, arrastando os pés de propósito para ouvir o eco na solidão da noite.
por Sérgio Araújo
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Como ondas num lago
Gostava de falar das coisas que, por um triz, escaparam do seu olhar atento e de toda a vivência que poderia encantá-lo e transformar os acontecimentos em sólidas cosntruções na memória. Mas, de qualquer forma, ele viu todas essas coisas e tinha delas uma saudade sublime.
Ele precisava delas para se achar. Não se achava em lugar algum sem os detalhes. Eles não são determinantes, mas fazem a conexão necessária ao estar ali. Era como se tentasse ocupar uma vaga antiga, algo como uma mossa num espaço vazio e plano que apesar de não ter existência concreta, física, permanecia intacta, à espera de um acoplamento que fizesse jus à sua existência.
E quando os ares impregnados de amargura comprimiam as coisas dos dias, ele procurava abrigo nos detalhes que, como uma chave mestra, lhe permitia abrir os momentos passados e recontar para si mesmo, restaurando migalhas das experiências como se fosse dar vida nova a uma obra de arte quinhentista vilipendiada por ignorância e desleixo.
Era assim, reencontrando-se e perdendo-se nos extremos das coisas, que ele fazia a sua arte para apartar-se de si mesmo. Nesse processo, encontrava o seu lugar, sua propriedade imaterial. Coisas de sentimento; signos inflados pela imaginação e arrumados para significar ampliando-se como as ondas bidimensionais se propagam num lago sereno.
por Sérgio Araújo