terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Poema de 18 anos

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Cansei do filtro de flores e cores no meu olhar.

Vejo a vida que passa

Do lado mais belo.

Não enxergo as nuvens

Que passam por mim.

A cada passo que dou,

Enxergo menos.

A nebulosidade expande com o tempo

Uma teia bela e confortável.

Agora, o que faço?

Imersa em conceitos filtrados,

Censurados,

De um mundo “adequado”.

No outro lado,

Sentado diante de mim,

Num canto escuro,

Alguém grita

E eu não sei o que fazer…

 

Poema de Taynã Souza, minha filha.

(Te amo muito e espero que goste desta surpresa)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Correnteza

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Na estrada, seguindo estrela

Caminhando devagar

Cruzando a vida, feiticeira

Com vontade de ficar

 

De todo feito pra vingar

Nessa estrada sorrateira

Siso pouco, muito amar

Solução se faz primeira

 

Construí casa de cera

Castelos à beira mar

Muros, ponte, ribanceira

Para ver tudo passar

 

E o que passa vai voltar

Quer queira ou não queira

Tudo tem o seu lugar

No meio da correnteza

 

por Sérgio Araújo

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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NNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNÃO

ÉEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

AAAAAAAAAAAAÁTOMOOOOOOOOOOOOOO

QQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQUE

ASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSOMBRA

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEÉ

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

SOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMBRA

DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

AAAAAAAAAAAAAATÔMMMMMMMICOO

DESEJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJOO

 

por Sérgio Araújo

sábado, 19 de dezembro de 2009

Pé de vento

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Tudo transcorria na mais absoluta simplicidade que a verdade encerra: Maria era casada com José, dois mais dois era quatro e o domingo era o dia do descanso.
Havia uma paz celestial, azul como as cuecas do Papai Noel e serena como mãe d’água absorta a acariciar os cabelos sobre a pedra lisa na margem plácida do rio.
Joaquim e sua amante; o tenente renitente e toda a gente supunham-se contentes em suas premissas verdadeiras. Não importava a ausência do seu filho mais valente, o José, que por caminhos impensáveis, andou riscando traços em terra e barro de longínquas plagas.
Joana cabeleireira, migrante por inteira, voltou certo dia com mala, cuia e Sarita, filha das tardes livres no salão vazio, das vozes roucas e coisas poucas do amor de João.
Menina aplicada, Isaura foi mandada, transferida, maculada. Da capital voltou fessora, cabo de vassoura, mais esperta que na ida. Para curar sua ferida fez palanque, voto e veto no caminho do poder e da fé.
Para quem ficou sobrou assento, mas nenhum pé de vento. Tudo era lento, o cabra zangado, o fogo de Elvira, a febre do mato e pobre no relento. Tudo era igual como fora antes no mundo pequeno do desconsolo.
E o rio manso, nas longínquas plagas de Joana que não tem o amor de João, que traiu José com Maria, que casou com Isaura por poder e toda a glória, corre agora colina abaixo entre pedras polidas, adentrando a mata, materno ventre.


por Sérgio Araújo

domingo, 13 de dezembro de 2009

Festim antropofágico

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Suspenso no fio tênue do seu sonho contingente, ele olhou em volta e percebeu, com espanto, quão diferente era a realidade posta na mesa da indiferente contagem dos dias.

Do alto, o olhar se expande e alcança surpreendentes formas que se insinuam e contam histórias com tramas embebidas nas profundezas da agonia e da dor. Neste caldo prenhe de solidão, apenas treva e vento inverso margeando dunas esculpidas pelo som arredondado de um violino.

Como um acrobata ébrio no olho do furacão, conta riscos luminosos e sombras obesas e vorazes que se avolumam ainda mais saciando sua fome num banquete biológico, fagocitose pictórica e dominante.

Mesmo que todos os ventos soprem sobre sua cabeça metálica, vale a  visão e o conhecimento do fogo e da água, das pedras que andam, de todo o mais e de todo o menos que os dedos podem alcançar nas cordas da guitarra.

E alguém grita:
Desce daí e vem ser fera,
Mas diligente
Como na última valsa
Que partilhamos na noite fria.
Desce para cantar
E contar
Em praça pública
Sob os olhares da turba
Que tudo é ilusão
É vento
Vulto
Vão.

Ouviu palavras ocas, cascudas, escorregadias, repulsivas como vômito. Não se empenhou em procurar definições, ele espalhou sua embriaguez no festim, assoberbado.

Liberto da fama e de todo o conteúdo singular, quer formar legiões trôpegas e procissões nômades. Não mais o belo. O grotesco é o interregno das cores e odores, das formas que nos fornos se formam em finos traços.

E na praça,
Sob as pedras da turba
Tudo é peso
Prisão
Pó.

por Sérgio Araújo

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Polaroid

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Aqui, onde estou,
Posso diluir-me num verso
Para caber no espaço do teu riso.
Posso colher mil maneiras de te amar,
Sonhar em cinemascope
Nosso beijo lírico de domingo.
Rabiscando agora,
Nesse velho caderno colegial,
Sou ciência humana transitória.
Sou saber perdido na tua memória,
Fotografia em preto e branco
Da minha antiga Polaroid.
Aqui, onde estou,
Posso construir meus versos em silêncio
Para exibir estático numa tela,
Posso fazer uma fotonovela
E colher o teu sorriso breve
Para fazer figura leve
No espaço cênico do poema.



por Sérgio Araújo

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O caçador I

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Quando abriu os olhos, ainda ofuscados pelas luzes intensas do “carrossel”, conseguiu perceber que estava diante de um paredão imenso e belo. Figuras em alto-relevo cercadas de hieróglifos contando histórias que, em breve, poderia observar em toda a sua integridade sem a intervenção de um narrador nunca imparcial.

O ocre em pedra sulcada pelo tempo era muito diferente do cinza encorpado da ultima parada na R.A. de Düsseldorf.  Novo erro na  transferência. Não deveria estar ali observando as tiaras de antigos Faraós e deuses compenetrados.

Deslizando o dedo indicador sobre o teclado negro do console, Mechthild interrompeu o sinal sonoro e desejou firmemente que esse erro fosse um dos incontáveis acidentes já previstos na complexidade do algoritmo da sala 404.

Mechthild olhou firmemente para o assistente e, confirmando uma pergunta que ninguém ouvira naquela sala, deu a ordem para o lançamento do caçador, cuja missão era repassar ao “estrangeiro” as instruções para resolver o problema nas transferências.

Não era uma tarefa fácil. O caçador tinha que se manifestar na realidade alternativa como um elemento nativo que, por sua vez, provocaria uma ação consciente do estrangeiro após perceber o fato como uma intervenção do LHC.

Em segundos, o caçador foi lançado. O estrangeiro ainda admirava a beleza da arquitetura antiga e nem percebeu quando, no meio de uma coluna de caracteres que dividia cenas que exaltavam a magnificência do Nilo, o olho de Hórus mostrava a direção a seguir para o único encontro, no único momento possível para a comunicação salvadora.

por  Sérgio Araújo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Singular

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Apenas um instante

E condensado todo o amor gerado na vida

Explodir no infinito

Sobre o futuro

Além do tempo e do espaço.

Um momento singular

Um salto e solto no ar

Flanar

Com meu corpo inteiro

Minhas sílabas certas

E meu sorriso de criança.

 

por Sérgio Araújo