Gostava de falar das coisas que, por um triz, escaparam do seu olhar atento e de toda a vivência que poderia encantá-lo e transformar os acontecimentos em sólidas cosntruções na memória. Mas, de qualquer forma, ele viu todas essas coisas e tinha delas uma saudade sublime.
Ele precisava delas para se achar. Não se achava em lugar algum sem os detalhes. Eles não são determinantes, mas fazem a conexão necessária ao estar ali. Era como se tentasse ocupar uma vaga antiga, algo como uma mossa num espaço vazio e plano que apesar de não ter existência concreta, física, permanecia intacta, à espera de um acoplamento que fizesse jus à sua existência.
E quando os ares impregnados de amargura comprimiam as coisas dos dias, ele procurava abrigo nos detalhes que, como uma chave mestra, lhe permitia abrir os momentos passados e recontar para si mesmo, restaurando migalhas das experiências como se fosse dar vida nova a uma obra de arte quinhentista vilipendiada por ignorância e desleixo.
Era assim, reencontrando-se e perdendo-se nos extremos das coisas, que ele fazia a sua arte para apartar-se de si mesmo. Nesse processo, encontrava o seu lugar, sua propriedade imaterial. Coisas de sentimento; signos inflados pela imaginação e arrumados para significar ampliando-se como as ondas bidimensionais se propagam num lago sereno.
por Sérgio Araújo
Concordo com você Sérgio, a busca interior é que nos fortalesse...
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