terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uniforme de Siri

a (11) - Não me diga que sujei a roupa de domingo e não posso aparecer em público desse jeito. O pelotão dos amarrotados já dobrou a esquina e eu ainda aqui, olhando pra sua cara de taramela rachada. Pois fique você sabendo que eu rejeito todo o seu humor de serpente e nem tente me fazer ficar, pois de agora em diante não sou mais gente. Sou capitão, tenente ou indigente metido a besta no meu uniforme novo de Siri.

- Te discunjuro, peste! Quem nasceu pra Xangó  jamais será Robalo! -Pragueja a nega véia.

Volta e meia, seu Nazinho cuspia na raiz do pé de pau e entornava a branquinha sem fazer careta. Olhava em volta para se certificar de que estava ali mesmo, na sombra rala da algaroba cabocla.

Prejuízo, o vira-lata sarnento, observa tudo com seu olhar de peixe morto e o sol trombica na maré alta pra sumir devagarinho, incendiando os morros do Bom Jesus.

 

por Sérgio Araújo

2 comentários:

  1. Reveladas a poesia da cena comum e a sabedoria do simples.

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  2. Caro Sérgio,

    Que beleza de texto! Você precisa colocar este seu estilo precioso em um romance.
    Abraços,

    Betusko

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