"Temos vagas". Era apenas o que se podia ler por entre a neblina que se avolumava em volta da pequena lâmpada acesa sobre a placa suspensa à porta de um prédio velho e ainda em construção.
Duas batidas na porta e uma mocinha magra de olhos escuros, vivos e longos cabelos pretos, deu passagem para uma sala sombria e iluminada à luz de duas lamparinas colocadas nas extremidades de um balcão de madeira, longo e corroído pelo tempo.
- Quanto tempo o senhor vai ficar?
- Apenas esta noite — respondeu o hóspede noturno.
A moça conduziu o hóspede até o terraço, passando por uma escada sem corrimão.
- Então não há leitos individuais? - perguntou o hóspede.
- Não senhor! Como pode ver, este é o único quarto que existe e aqui estão todos os nossos hóspedes.
Dezenas de corpos sonolentos, arrumados em fileiras ao longo das paredes, enfiados em sacos suspensos verticalmente por argolas presas a ganchos de metal. Um único e enorme cobertor suspenso acima das cabeças por fios de nylon, protegia-os contra as intempéries pois não havia teto algum, apenas a noite escura sobre suas cabeças.
- Quem são essas pessoas? - indagou perplexo o novo hóspede.
- O senhor não sabe? - respondeu a jovem calmamente.
- São os jogadores do tempo. Chegam aqui aos montes e aqui permanecem até que o jogo recomece na manhã seguinte.
- mas que jogo é este? – quis saber o novo hóspede.
- Ora, ora... Não vá me dizer que o senhor veio aqui por acaso, eu tenho certeza que não. – afirmou a jovem, categórica.
-Nesse instante, como se já tivesse estado ali por muitas vezes, o hóspede reconheceu o seu lugar junto aos demais, declarou suas marcas e viu-se suspenso, em seu saco de dormir, pronto para fazer daquela noite o ponto de partida para novas vitórias no jogo.
por Sérgio Araújo
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