Procurando “O direito ao ócio” de Paul Lafargue, ele tombou o livro que se escondia, estreito que era, entre o “Ócio” e o “Capital”. Era um volume de bolso editado nos anos quarenta, com tiragem limitada, impresso em papel Leorne e rubricado pelo editor.
Nada de excepcional, posto que sua estante abrigava obras adquiridas no velho “Sebo Brandão”. Todavia, aquele exemplar lhe chamou a atenção. Não se lembrava dele, com certeza não o tinha comprado e muito menos lido.
“Um homem velho”, de Frederico Guilherme Framet, tradução de Joaquim Pinto Costa. Editado em Lisboa, o livrinho tinha a arrogância das grandes obras. Mas quem seria esse tal de F.G. Zamet? E o seu personagem, o homem velho? Não parecia um tratado de psicologia nem tampouco de fisiologia. Tinha páginas a menos que a conta necessária para tal empreendimento.
Era um pequeno conto, com certeza! Estava disposto a se deixar levar pela narrativa, penetrar no universo misterioso de um autor sobre o qual nada conhecia.
Abriu o livro como se abre aqueles livrinhos de “pensamentos do dia” e leu a esmo: “não compreendo por que julgais ilegítimo o entusiasmo que não morreu com o tempo. O mundo está cheio de pessoas cuja casca áspera e rugosa denuncia a passagem do tempo e que conserva o viço que impele o seu querer. A morte da semente é a vida do broto”.
Leu sem parar o velho e insignificante livrinho achado espremido entre gigantes.
por Sérgio Araújo
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