sexta-feira, 4 de junho de 2010

A música dos planetas

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Aqui estou, fruto da minha própria ilusão. Debalde escorrego como uma barata sobre uma ponte que constrói-se e dissipa-se conforme a sombra esguia do meu corpo avança.

Trago em minhas malas, restos de planos em papel embrulho, perguntas sem respostas, pingos de chuva que não secaram com todos os verões e ainda refletem, estranhamente, a luz da manhã brumosa que os produziu.

Sou um estranho corpo alojado em minhas vivências, como alfinetes espetados em antigos mapas. Minhas trilhas, costuradas que foram no couro áspero dos dias, marcam, cerzidas umas, calcificadas outras tantas e poucas abertas ainda sangrando à mercê dos novos sonhos.

Que importa ter ouvido a música dos planetas! No baile, embriaguei-me e como artista transformei a festa numa arena de máscaras tão efêmeras como as cores que sobram do bater de asas de um beija-flor.

Daqui, da minha gaiola, veja a imensidão do espaço e a perdição do tempo. Meu braço curto não toca o que almejo. Mas, supondo que abram-se as portas e escancarem todas as janelas, eu escaparei pela fresta que abri nas longas vigílias e no trabalho árduo principiado há muito.

Eu te digo, meu camarada: trago nos olhos a imagem das ondas que se quebram sobre as pedras na praia borrifando suas alvuras e cantarolando trovões.

 

por Sérgio Araújo

2 comentários:

  1. "Eu te digo, meu camarada:" sua descoberta de que, em nosso percurso, há mais fractais que linhas retas constitui possibilidade de que a mente alcance mais.

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