segunda-feira, 14 de junho de 2010

A sós com as palavras

metsnap

Estamos todos sós

Nos arranha-céus,

No beco imundo,

Nos jardins…

Eu estou só

E quanto mais fundo vou,

Mais alto estou.

A distância não separa,

Mas preenche o campo de visão

Como se observa uma maquete:

A forma reduzida,

A realidade apreciável do todo.

Há sempre que nomear

O que se vê daqui.

Nada é o mesmo

E mesmo que seja será sempre  inominável,

Porque palavras,

Não as tenho para tal fim.

Me perco e me acho nos signos

E embora clara a visão,

É minha a construção do objeto que se mostra.

Dou forma e retenho a imagem,

O que sobra não é minha obra,

Mas aparas ressequidas

Que nada contam sobre a figura esculpida.

 

por Sérgio Araújo

2 comentários:

  1. As palavras nos permitem brincar, zombar, confundir, mudar a situação ou complicá-la. Bendito aquele que tem o dom das palavras, que mesmo só consegue transformá-las em poema.

    ResponderExcluir
  2. Sérgio,

    Esse domínio/não domínio que se tem da palavra leva e traz de volta nosso olhar, tantas vezes, ao mesmo objeto, não? Aproximar-se e afastar-se reconhecendo a impossível total transparência do que se escreve, como impossível também parece a total apreensão da existência de qualquer objeto. "A sós com as palavras", parecemos poder tanto como saber tão pouco.

    ResponderExcluir

Obrigado pela visita!