Estamos todos sós
Nos arranha-céus,
No beco imundo,
Nos jardins…
Eu estou só
E quanto mais fundo vou,
Mais alto estou.
A distância não separa,
Mas preenche o campo de visão
Como se observa uma maquete:
A forma reduzida,
A realidade apreciável do todo.
Há sempre que nomear
O que se vê daqui.
Nada é o mesmo
E mesmo que seja será sempre inominável,
Porque palavras,
Não as tenho para tal fim.
Me perco e me acho nos signos
E embora clara a visão,
É minha a construção do objeto que se mostra.
Dou forma e retenho a imagem,
O que sobra não é minha obra,
Mas aparas ressequidas
Que nada contam sobre a figura esculpida.
por Sérgio Araújo
As palavras nos permitem brincar, zombar, confundir, mudar a situação ou complicá-la. Bendito aquele que tem o dom das palavras, que mesmo só consegue transformá-las em poema.
ResponderExcluirSérgio,
ResponderExcluirEsse domínio/não domínio que se tem da palavra leva e traz de volta nosso olhar, tantas vezes, ao mesmo objeto, não? Aproximar-se e afastar-se reconhecendo a impossível total transparência do que se escreve, como impossível também parece a total apreensão da existência de qualquer objeto. "A sós com as palavras", parecemos poder tanto como saber tão pouco.