Como crateras escavadas na noite densa para abrigar os restos de sua alma vazia; assim eram os olhos de Zulmira. Não via nos becos sórdidos a decadência das gentes, mas uma potencialidade para o inesperado e o fatídico.
Ela zombava do tempo e do ser. Nas tempestades da carne e no redemoinho da embriaguez delirante encapsulava antídotos e panaceias para os breves dias de amarga lucidez.
Em outros palcos, novos atores, velhos canastrões, máscaras partidas no relance dos braços e abraços enclausurados na inconsistência da troca. Nada de afetos afoitos ou sinceras desculpas.
Gente se parte ao meio – dizia - como quem rasga uma antiga fotografia para segregar memórias. Zulmira, a dama da noite, rompia a escuridão tateando na atmosfera onírica do seu próprio destino encrostado nas pedras das ruas.
Zulmira, por trás da fumaça, imprimia no ar um sorriso ácido como o blues que brilhava na superfície negra do vinil.
por Sérgio Araújo
fazia tempo que não passava por aqui.
ResponderExcluirsempre muito bom te ler.
abraços ;)
Zulmira: dama da noite, destruidora de corpos sedentos.
ResponderExcluirEstou a imaginar antídotos e panaceias encapsulados para os breves dias de amarga lucidez. Essa Zulmira criou uma receita de prazer eterno. Uns cavam a terra com pás, outros só dispõem das mãos.
ResponderExcluir"Gente se parte ao meio". Quanta verdade há aqui! Ótimo texto!
ResponderExcluirAbraços.