quinta-feira, 23 de julho de 2009

Raso

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O sol tostava a minha pele. Os meus olhos, impregnados de azul, com muito esforço reconheciam o marrom que manchava a aridez do chão. Acolá, testemunhas das agruras da terra, calangos assentiam solenemente sobre a rocha agressiva.

Também vi o tempo escondido na tez ressequida das crianças, enquanto ouvia o grito desafiador do carcará que pairava solene sobre a terra inóspita e agreste.

A sede ardia. Uma cadela manca, em pele e osso passou alheia à intromissão desajeitada dos tênis empoeirados. O Raso é tão profundo na amplidão da paisagem.

O espinho não fura o couro do gibão. A cavalgada é lenta entre galhos secos. A terra de Lampião, luz, fifó. Terra de repetição, jagunço, morte na curva da cova.

Seu Rufino, ainda menino viu as retiradas e viajou as léguas do Santo, cumpriu promessa, gesso e cera pro museu das lapas.

O sol ardia no azul e amarelava o chão de pó. Continuou assim até desfazer-se em silêncio dourando tudo, silêncio profundo cortado por grilos e pios.

 

por Sérgio Araújo

foto-flickr-Glauco Umbelino

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