segunda-feira, 23 de novembro de 2009

“404 error”

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- Silêncio! – sussurrou calmamente Mechthild Chetran, enquanto vibravam as cordas do violino espalhando notas tristes pela sala. Lá fora, a neve caia rodopiando ao som do vento.

Não poderia sair errado dessa vez. A final, depois da investigação sobre as causas prováveis da transferência equivocada para Düsseldorf (R.A.) sem que nada fosse detectado, as atenções foram concentradas na resolução do problema.

Naquela Realidade Alternativa, ninguém poderia ajudar. Manter a invisibilidade consentida era uma questão de respeito ao acordo de não interferência nos deslocamentos alheios. Embora os canais estivessem abertos às comunicações, Meyrin (Realidade Física) não pediria a Düsseldorf (R.A.) para intervir. Enquanto isso, o “estrangeiro” tentava manter-se iluminado som as lâmpadas dos postes.

O pessoal do LHC estava tentando uma solução que poderia chegar a qualquer momento dando início ao processo de captura e download para a base em Meyrin. Mechthild esperava com certa preocupação o aviso em frente à Unidade Cavendish ou “o armário”, como era chamada pelos aspirantes.

O “estrangeiro” havia passado por diversas RAs desde 1958 e estava confuso. M. Chetran sabia disso e, enquanto esperava, mantinha os canais abertos e enviava sinais preciosos para a manutenção da integridade física e psicológica do “estrangeiro”.

O Prelúdio de Tristan und Isolde rompeu o silêncio que a situação impunha como o sinal para que o “estrangeiro” pudesse digitar as coordenadas e partir. Ele assim o fez e penetrou cansado e delirante na zona de transferência, consolado no turbilhão de luzes por antigas lembranças da última primavera ao lado de Mechthild.

Quebrando o silêncio da sala, como barras de ferro atiradas ao mármore, o som do alto-falante deu o aviso enquanto da tela, aos olhos atentos, insinuava-se em fade in: “404 ERROR”.

por Sérgio Araújo

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