sábado, 21 de novembro de 2009

Controvérsia

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Caro amigo Betusco,

O camarada disse que a literatura é uma cadeira. Foi taxativo. Assim mesmo: uma cadeira! Não se sabe se uma cátedra, num resgate histórico do valor do termo na cultura ocidental ou se estamos tratando de uma dentre as mil que saem por hora da linha de montagem da fábrica de cadeiras. Seja como for, não é um bom negócio. Ops! Literatura é um bom negócio? Talvez! E eu me vi, de repente, numa brincadeira, êpa! Quer dizer, num jogo das cadeiras. Sabe? Aquele jogo em que os jogadores vão correndo ao redor de algumas cadeiras ao som de uma musiquinha qualquer e quando o monitor interrompe a cantiga todos têm que sentar só que tem uma cadeira a menos em relação ao número de participantes.

Eu fiquei sem cadeira, meu literato amigo. Não seria a literatura, antes, um jogo? Quem sabe um jogo de cadeiras? Assim como no jogo, eu não tenho que ficar confortavelmente instalado, palitando os dentes e coçando o saco (com a mesma mão) enquanto os demais jogadores dão voltas em torno de mim e eu me deleito com a colocação perfeita das vírgulas. Literatura é perdição, desordem, reconstrução; é sentar num foi de arame estendido entre duas montanhas e gritar quando todo mundo se cala.

Olavo, o Bilac, desdenhou de Augusto, o dos Anjos, e hoje se lê mais Anjos que Bilacs. A fronteira é móvel e o exército improvisa ao sabor das eras e feras do tempo.

Eu quero o sabor do texto, a as cores das palavras, o som das letras perfumando as frases macias ou ásperas como a casca do abacaxi. Eu não quero uma cadeira, eu quero sentar no chão e sentir o calor da terra. O resto eu deixo para os revisores (os do word ou similar) que é o que todo mundo faz, ora bolas...

Abraço.

P.S. As palavras tachadas foram rejeitadas pelo verificador ortográfico do Word. A culpa é do Bill Gates.

 

por Sérgio Araújo

Um comentário:

  1. Caro Sérgio,

    Também não concordo com o comodismo que a cadeira representa, a menos que seja uma cadeira-elétrica, daí não há sossego algum ao seu destinatário. Assim a Literatura serve, como
    todo tipo de arte, para tirar o sujeito da zona de conforto. Tem que surpreender, sacudir os neurônios, tirar o fôlego, fazer pensar, comparar e, sobretudo, emocionar o leitor, pois a emoção resgata o ser humano da mediocridade.
    Agradeço ao amigo por ter se dado ao trabalho de sair em defesa deste
    escritor das horas vagas e das cheias também, entretanto, talvez tenhamos compreendido o comentário do camarada sob pontos de vistas diferentes, ou a sua veia crítica,amigo Sérgio, esteja mais pulsante do que a minha.
    Mas isto já é outra história...
    Abraços e parabéns pelo artigo.

    Betusko

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