sábado, 19 de dezembro de 2009

Pé de vento

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Tudo transcorria na mais absoluta simplicidade que a verdade encerra: Maria era casada com José, dois mais dois era quatro e o domingo era o dia do descanso.
Havia uma paz celestial, azul como as cuecas do Papai Noel e serena como mãe d’água absorta a acariciar os cabelos sobre a pedra lisa na margem plácida do rio.
Joaquim e sua amante; o tenente renitente e toda a gente supunham-se contentes em suas premissas verdadeiras. Não importava a ausência do seu filho mais valente, o José, que por caminhos impensáveis, andou riscando traços em terra e barro de longínquas plagas.
Joana cabeleireira, migrante por inteira, voltou certo dia com mala, cuia e Sarita, filha das tardes livres no salão vazio, das vozes roucas e coisas poucas do amor de João.
Menina aplicada, Isaura foi mandada, transferida, maculada. Da capital voltou fessora, cabo de vassoura, mais esperta que na ida. Para curar sua ferida fez palanque, voto e veto no caminho do poder e da fé.
Para quem ficou sobrou assento, mas nenhum pé de vento. Tudo era lento, o cabra zangado, o fogo de Elvira, a febre do mato e pobre no relento. Tudo era igual como fora antes no mundo pequeno do desconsolo.
E o rio manso, nas longínquas plagas de Joana que não tem o amor de João, que traiu José com Maria, que casou com Isaura por poder e toda a glória, corre agora colina abaixo entre pedras polidas, adentrando a mata, materno ventre.


por Sérgio Araújo

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