domingo, 10 de janeiro de 2010

Simulacro


Chovia muito. Através do vidro, um pouco embaçado pelas gotas que escorriam lentamente, Mechthild podia ver o prédio que abrigava a sala 404, destino certo para a resolução de problemas na condução das ações implementadas pelo pessoal do LHC.
- Senhorita M., por favor. - disse, sem tirar os olhos da tela, o encarregado das avaliações dos algoritmos.
- O que houve Jacques? - perguntou Mechthild dirigindo-se para a mesa de operações em que ele se encontrava.
- Parece uma interferência, algo ou alguém está tentando "pegar carona" na zona de transferência. - respondeu Jacques, surpreendido pelo inusitado da situação.
- Dá licença, deixe que eu assumo daqui pra frente.
Mechthild parecia nervosa a ponto de suscitar olhares inquietos da maioria das pessoas que, nesse instante, se aglomeravam em torno da mesa.
O "caçador", livre das intempéries da imaterialidade temporária, achava-se pronto para realizar a tarefa para a qual fora escolhido dentre vários pretendentes, sequiosos de aventura e conhecimento.
Podia ver o estrangeiro agora a contemplar a beleza gravada na pedra. A história de milhares de anos representada na contingência das formas de um universo demasiadamente humano.
- Perdemos o contato - sussurrou Mechthild para Jacques que, freneticamente corria os dedos sobre a tela tentando encontrar uma solução.
O calor intenso e a luz do sol produziam um horizonte de aspecto metálico, admiravelmente belo e misterioso, cenário possível para um encontro provável.  
- Achei, achei... - disse Mechthild, compenetrada. - Ai está a raiz dos nossos problemas. 
Na tela podia-se ler, em meio às incontáveis linhas de caracteres, uma palavra que se mostrava incompatível, até para os olhos de um leigo, com o código que ali vigorava e naquele momento governava as vidas daqueles homens fantásticos que, sob risco constante, avançavam no front dos avanços tecnológicos promovidos pelo LHC.
O "caçador" avançou pelas dunas escaldantes em direção ao estrangeiro. Era um perfeito berbere e, nesse disfarce, deveria insinuar-se ao estrangeiro para alcançar seu objetivo e solucionar o problema com precisão nas transferências regidas por Mechthild e seu grupo de trabalho.
Distante no tempo, do que ocorria na Realidade Alternativa, e diante de todos na sala, a palavra permanecia pulsando na tela: SIMULACRO.


por Sérgio Araújo
Leia também, pela ordem: Lapso, 404 error, o caçador I

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