
O tempo não passa como se pensa.
Ele para nas tardes cinzentas
Quando, olhando o horizonte,
Ouvimos os sussurros da brisa ligeira.
Sentimos o tempo que diz:
Ei, espera que vou te mostrar:
Olha pra mim!
Podes ver-me na réstia de sol
Sobre o muro?
No pássaro que canta acolá?
No inseto traquinando amiúde?
No som de um alaúde?
Olha pra mim
E murmura aquela cantiga
Aquela, da moça do conto de Maupassant.
Repara!
Escuta, olha, sente.
É como extrair som das teias,
Soa sublime e quente como um colo.
Olha pra mim
E me diz de si
Que eu sou todo ouvidos.
Intenta tocar-me
Nesse jogo de pega-pega.
Olha pra mim
Que te mostro coisas sem fim.
Coisas que brilham no jardim,
O violino da valsa,
A cigarra
E a traça perdida na parede branca.
Às vezes o tempo para
Na música que nos embala
E nos faz pensar
Que apenas blefa
Quando enruga a face lisa do artista.
por Sérgio Araújo