quarta-feira, 28 de abril de 2010

O tempo não passa como se pensa

time
O tempo não passa como se pensa.
Ele para nas tardes cinzentas
Quando, olhando o horizonte,
Ouvimos os sussurros da brisa ligeira.
Sentimos o tempo que diz:
Ei, espera que vou te mostrar:
Olha pra mim!
Podes ver-me na réstia de sol
Sobre o muro?
No pássaro que canta acolá?
No inseto traquinando amiúde?
No som de um alaúde?
Olha pra mim
E murmura aquela cantiga
Aquela, da moça do conto de Maupassant.
Repara!
Escuta, olha, sente.
É como extrair som das teias,
Soa sublime e quente como um colo.
Olha pra mim
E me diz de si
Que eu sou todo ouvidos.
Intenta tocar-me
Nesse jogo de pega-pega.
Olha pra mim
Que te mostro coisas sem fim.
Coisas que brilham no jardim,
O violino da valsa,
A cigarra
E a traça perdida na parede branca.
Às vezes o tempo para
Na música que nos embala
E nos faz pensar
Que apenas blefa
Quando enruga a face lisa do artista.

por Sérgio Araújo

5 comentários:

  1. Caro Sérgio,

    Belo poema, sensívele lírico na medida certa.
    Abraços


    Betusko

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  2. Lindo textoe um filosófico desfecho.
    Parabéns, Serjão!

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  3. Enquanto pensamos que é blefe, o tempo age. Gostei da traça perdida da parede.

    Bom final de semana

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  4. Ótima poesia.
    Ritmo intenso, cuidado lingüístico
    [eu ainda não perdi a trema],
    imagens transmitidas com coesão...

    tá de parabéns, adorei.

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  5. Olá. Primeiramente agradeço a visita ao blog. E parabenizo pelo seu, gostei muito do que li aqui, voltarei outras vezes. Sucessos.

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Obrigado pela visita!