sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nave de plasma

563291049_2c8c4b6fe1José estava ficando velho. Apesar da contagem do tempo, não era a cronologia que marcava como tatuagem de dragão, a alma inquieta do nosso amigo. O que ele não tolerava  e lhe tragava a insignificante existência era um querer quase insano.

Ele esperava por não saber procurar. E, nessa espera, desaguava sua incompleta aventura em prosa e versos que, com o tempo, tornou-se um enfado. Já não supria mais a necessidade de transcender os vazios dos dias, a conta não batia e as despesas eram maiores que a receita.

Queria. Não sabia mesmo o quê. Queria talvez o dia com céu azul e alguns cirrus bem branquinhos. Quem sabe navegar no Jet Stream pilotando uma nave de plasma.

José queria, mas não sabia. Certa vez pensou que podia ser marinheiro no barco de Jack London. José era mesmo assim: impressionava-lhe o modo de vida aventureiro e romântico como nos velhos contos que ainda empoeiravam em sua estante.

José estava ficando velho. Apesar da contagem do tempo, não era a cronologia que marcava, como tatuagem de dragão, a alma inquieta do nosso amigo. O que ele não tolerava  e lhe tragava a insignificante existência era um querer quase insano.

Ele procurava por não saber esperar. E, nessa procura, completava a sua aguada estrutura rascunhando o tempo no tédio das horas.

José sabia, mas não queria  viver a insalubridade das idéias comuns.  Nada era tão belo como olhar o mundo com óculos novos, ler “Noites Brancas” de uma tacada só ou ouvir os passarinhos naquela manhã com céu azul e cirrus brancos.

Pensava em ser marinheiro, aventureiro, romântico. José queria acordar de férias para escrever um livro. Queria viajar para a  Rússia, Alemanha e Xique-Xique.

José estava ficando velho e nessa espera desaguava ou, quem sabe, navegava na brancura dos livros tatuando dragões na memória, nas noites empoeiradas da sua existência.

 

por Sérgio Araújo

4 comentários:

  1. São muitos Josés, caro Sergio. É uma poesia sobre o cotidiano. Já ouvi falar deste cara.

    Bom final de semana

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  2. Maravilha, grande Sérgio.

    Um diabo de um lobo do mar, outro danado Dostoiévski aflito devem ter deixado José bem mais sabido do que velho.
    Show, meu amigo.
    Um ótimo final de semana,
    alaor

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  3. Gostei da crônica. Está bem escrita.

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  4. Sergio seu blog é espetacular, show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
    Um grande abraço e tudo de bom
    Ass:Rodrigo Rocha

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