sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O artista da solidão embriagante

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Oh! Senhor das colheitas e das flores que brotam nos jardins do fim do mundo.

Eu sou Severino. O servo aleatório. O penitente na terra violada. O artista da solidão embriagante.

O pórtico está aberto e a jornada vai começar.

Por hora vos digo: do nada nada se cria, exceto a fantasia! E desta sou o criador e curador.

Silibrina da face orvalhada, como Lady Godiva, embriagada até o gargalo, dissonha o que antes era aconchego e canto quente, para soltar do ventre em chamas, o rebento seco como o lajedo da capoeira.

Meu coração é de barro, das barrancas do rio, das pisadas do gado leve em pele e osso, sim senhor.

Quando cantou, "Joana flor das alagoas", o canto da terra, o lampião acendeu em noite ligeira e relampiou nas telas de zinco.

Naquele instante, eu nasci! Bezerro novo na poeira dos dias, arauto das primeiras horas, que ainda nas mãos da véa Aniceta, num choro embargado, risquei o espaço com o olhar duro para as frestas da taipa.

Na rabeira das palavras, cantei num canto salitroso as desditas dos couros secos no rol das plagas e resmunguei meus versos pros ouvidos rotos.

Canto, meu senhor, porque velado é o tempo que assombra minhas certezas e me impõe rolar o verbo na brancura calva do papel.

Oh! Senhor das colheitas e das flores que brotam nos jardins do fim do mundo.

Eu sou Severino. Servo já não sou.

Meu penar me fez crescido e nas artes me fiz príncipe.

Codinome voluntário pra espalhar letras miúdas e outras tantas graúdas nas folhas que correm mundo a fora.

 

por Sérgio Araújo

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