segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O dia do Oliveira

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Oliveira saiu de casa as seis e trinta, como de costume, pegou o seu Chevette dourado e foi para o trabalho.
Aquela manhã não era como as outras de sua vida de funcionário público estadual. O sinal fechado na primeira esquina, pedestres demais na rua esta manhã! O vendedor de tapetes para carro, a gata da lanchonete, os vidros fechados sem ar condicionado, o medo de perder a sua carteira de couro, presente dos filhos no dia dos pais.
Oliveira pensou! Pensou que podia não ser Oliveira. Sim. Podia ser o carteiro, o delegado, seu vizinho, Dona Maria dos bolinhos ou até mesmo Bob, o cãozinho de Mateus, seu primogênito.
Oliveira sonhou acordado! Sim. Sonhou que podia jogar a papelada do trabalho pela janela do décimo quinto andar da Secretaria, beijar a secretária gostosa do secretário, estapear o chefe incompetente e relaxar na sua poltrona por horas a fio sem ser perturbado por ninguém.
Oliveira decidiu! Não. Não mais iria ao Hipermercado aos sábados pela manhã com a patroa e a filharada. Chaves do carro nas mãos sacudindo, bermuda com muitos bolsos para parecer turista estrangeiro, carteira debaixo do braço, a meninada se divertindo e, vez por outra chorando pra valer em algum corredor recheado de brinquedos caros.
Dona encrenca, nem se fala, desaparecia bem na hora de passar as compras no caixa para não dar tempo de devolver os supérfluos e não passar vergonha na frente dos possíveis observadores: creme para cabelos, kit de manicura, algodão colorido, coisas com glitter, flipper, bips e trics.
Oliveira sacudiu a cabeça negativamente. Não dá! Churrasco no domingo não! Cerveja quente do boteco do Pepe, o sol torrando a pele, o banho de mangueira do Valdir com aquela sunguinha do Gabeira, a fumaça, o calor das chamas, as mãos pretas e oleosas, a vizinha gorda, o cachorro latindo, alguém escorrega e quebra o braço. Adeus churrasco.
Oliveira bateu a porta do Chevette com cuidado, trancou-o e pegou o elevador com a secretária gostosa, o chefe de cara amarrada e mais três coitados Oliveiras, senão Pereiras ou quem sabe Silveiras e foi trabalhar naquela manhã de segunda-feira.

por Sérgio Araújo

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