terça-feira, 19 de maio de 2009

A estrada

A estrada era permanentemente coberta por um céu anterior. Logo que chegou por alí, avistou o vasto deserto com o seu clima ameno, levemente aquecido e acolhido por uma brisa alegre e perene.
Não desejava caminhar, apenas queria sentir o ar acariciando sua pele enquanto divisava ao longe um arbusto verde em folha, em cujos galhos calados, suspirava a ave noturna.
Não havia caminhos outros que acorressem às impávidas construções monolíticas que erguiam-se à sua frente, pois o tempo é efêmero e corre numa velocidade de mãos unidas, numa luz igual e envolvente, pactuando com a natureza onírica do lugar.
Não! Definitivamente ele não era um ator confuso dizendo as falas soltas enquanto o pano caía e o espectador mais atento dormitava sobre um colo prateado.
- Come este fruto seco em plena terra com cheiro de terra - disse-lhe o guia e continuou - seus planos foram desfeitos pois o rumo é infinito e a incerteza é o destino.
- E aquele velho calendário? - Indagou.
- O tempo é agora! Sentenciou - embora as luzes artificiais atenuem teu desencanto, esta estrada é deserta o suficiente para te prender em suas léguas sinuosas.
Foi! Devagar caminhou entre veredas. Viu alhures as crianças no terreiro, os pregoeiros a soluçar maravilhas e as mulheres nos afazeres coletivos.
Agora posso voltar - pensou.
Mas viu-se novamente imóvel, perdido em pensamentos enquanto um cão rosnava, sonolento, ao seu redor.
Virou-se, olhou em volta e sorriu.

por Sérgio Araújo

Um comentário:

  1. Sérgio,

    "A Estrada" revela que você é muito bom na prosa. A poesia, nem preciso falar. Já demonstei minha admiração. Sua expressão poética, sua sensibilidade, também aparece na prosa. Sou fã de seus textos, e surgiu uma curiosidade: você tem plano de publicar algum livro? Talento você tem...

    Abraços,
    Graça

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