sábado, 30 de maio de 2009

Janelas

797px-János_Tornyai_(1869-1936)_Window_of_the_Atelier(1934)
As janelas sempre me intrigaram. Há janelas para a escuridão, janelas para uma luz intensa, janelas que permitem vislumbrar recortes do ambiente, como num quebra-cabeças.
As janelas estreitas são como ranhuras na solidão do ambiente; as janelas longas não mostram nada, são espelhos que resguardam o interior das torpezas do dia.
Há ainda as quadradas; as quebradas; as consertadas de última hora; as definitivamente sem conserto.
Mais intrigante ainda são as pessoas às janelas: uma velha solteirona e magricela,um senhor de bigodes largos e poucas esperanças, uma lâmpada amarela, lembranças, crianças.
As janelas das meretrizes,dos aprendizes… Há silêncios que dizem tudo. Discussões acaloradas, brigas, intrigas, velórios.
Um pai angustiado, um marido traído, um filho que chora num canto qualquer; um taco de pão, migalhas no chão, sangue e lágrimas.
A música não pára, taças, vultos coloridos, sorrisos, gritos agudos, um seio suado, um beijo roubado.
As janelas são cicatrizes!

por Sérgio Araújo

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