sexta-feira, 1 de maio de 2009

O gesto!


Parou em plena avenida. À primeira vista, apenas podia distinguir três lumes que incidiam brancos. Mesmo que recortadas, essas pequenas e nervosas formas, fundiam-se num corpo ao fundo que se dissolvia, branqueado, branqueagudo sob um céu enegrecido em escuro contraste com a luminosidade pueril: como uma corexplosão no abismo, uma imagem ritmada, quase espasmocênica.
Pensou que podia voltar para casa e escrever sobre aquele gesto novo que nenhum ser humano ainda havia experimentado e que em seu íntimo sabia que existia. Precisava apenas explorar as dobradiças.
Sim! Todo corpo é único e preciso, mas diverso no “eu” que generaliza e submete a determinados signos universais.
Ah! Um gesto cerebral!
Como pode ser? Pensou enquanto gesticulava ligeiramente. Codificar, Eis a solução.
Todo esse gestual concreto pode libertar, - pensou.
Não! Não é possível fazer-se claro aos cidadãos agônicos que em vão perambulam, reticentes em suas retículas ácidas, diagramadas, cada um ocupando o seu espaço programado.
Tentou ouvir sua própria voz, mais uma vez, para saber se ainda podia falar. Olhou em volta e prosseguiu vasculhando rostos, perfis, silhuetas, diodos e dióxidos.
Disse? Não!
Lentamente, como quem é conduzido pela falta de luz, escorregou como um relógio de Dali entre a multidão ácrata e continuou até dissolver-se completamente num ponto.
Codificado, mensurável, agora estava livre para continuar imune aos apelos de um sentimento humano. “Demasiadamente humano”.

por Sérgio Araújo


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